sexta-feira, agosto 25, 2006

cala-te

Cala-te minha besta.
Anormal.
Estás sempre aqui: "Porque é hoje, porque é amanhã"
Cala-te foda-se.

Senti-me mal por te mandar calar
senti-me mal por não te mandar parar.
Estas coisas vêm à velocidade de qualquer coisa que anda muito depressa.
Cala-te!
Não quero mais porque quero tudo
e ir é sinal de ficar continuar e querer.
Noites de poesia embriagadas
noites de som inebriadas.
Cala-te puta.
Ahhhhhhhhhhhhhhhhh
Só me apetece berrar-te tudo aquilo que me apetece berrar e calar espetar rogar parar ir calar calar calar calar
Cala-me por favor.
Não quero dizer estas coisas que só me fazem repudiar o mundo
repudiar a inexistencia da existência.
Eu quero ir voar e deixar de sentir tudo para que me possam abraçar e sentir a pureza de uma alma.
Onde está toda a gente?
Para onde foram?
Onde estão?
Não vejo ninguém.
A merda do mundo veio ao de cima
só quero sentir alguma coisa diferente
alguma coisa diferente.

quarta-feira, agosto 23, 2006

Como se cala isto?

Sou estranho.
Estranho todos os dias.
Nem quando acho que tudo está lá,
continuo a ser estranho.
Alguém me cala e continua
vem uma pessoa diferente e continua
estranho.
Mas qual a estranheza disso?
A anormalidade não é um estado aceite?
Não somos todos diferentes e reagimos de forma diferente?
Estão não seremos todos estranhos?
Sou estranho.

Digo palavrões em frente a toda a gente e as pessoas riem-se.
Faço das minhas dislexias trunfos de piadas
e elas riem-se
conquisto espaços para que o meu ego se sinta confortável
e desmonto, desmonto tudo e mais alguma coisa para me manter.

O coração ressente-se vezes sem conta
é físico é psicológico.
Compreendo agora a forma da metáfora
a metáfora pode tomar conta de nós
é fantástico, criamos os nossos próprios mundos
e eles apoderam-se de nós
para nos mostrarem que estão realmente lá
puxamos e afastamos as pessoas de quem gostamos
porque somos todos estranhos e a única coisa que queremos
é sentirmo-nos bem e sermos felizes
porque somos estranhos.

domingo, agosto 13, 2006

Outro tipo de novidade

É, pisa-se o céu quando se quer chegar lá.
Não me vou esforçar por compreender.
Laços, braços que esticam e pegam em tudo aquilo que queremos.
Pernas, costas, dói-me tudo.
Mas dói mais o que vou vendo, como?
Outro tipo de dor.

Vem-te. Agora só para mim.
Não vou querer pensar nisto
mesmo quando, só, me junto a mim a querer todas
todas. E qualquer uma serve
desde que venham todas.

Passaram o cilindro de novo pelo alcatrão
ficou tudo bem liso
e as rugas que andava a tentar criar
deixa-as, são para outro as viver
e ser e querer.
As minhas estão lá, estão, estão, estão.

segunda-feira, agosto 07, 2006

Coisas do ar

A Carolina escreveu isto, curiosamente enviou-me. Tem o título "coisas do ar", há coincidências incriveis.



"Neste sufoco habitual que é acordar sozinha todas as manhas, lembro-me do que não fomos.
Eu costumava acreditar que o tempo ia voar para nós e por esta altura estaríamos já os dois velhos, a ver estrelas desfocadas pela miopia, durante as noites de Verão.
Iríamos beber chá e ter gatos, como toda a gente. Estar cansados pela vida, como toda a gente.
Ter cortinados feios, como toda a gente. Ver televisão de qualidade duvidosa, como toda a gente.
Iríamos ser como toda a gente e no entanto, tão nossos, que nunca ninguém ia entender as nossas singularidades.
Iríamos sentir-nos confortáveis, longe da angústia adolescente e em conversas só nossas, rir ao lembrar quando secretamente planeávamos morrer antes dos 30.
Tu ias continuar a descansar a tua mão displicentemente na minha perna e eu ia continuar a achar esse gesto algo espontâneo e maravilhoso.
Seríamos assim, sem conhecer outro amor, até que um de nós morresse. Depois, meses depois, morreria o outro de tristeza. Todos teriam que reconhecer a nossa simbiose.
Seria o nosso último sorriso sarcástico, para quem ainda se atrevesse a duvidar.
Teríamos filhos feitos de nós. Traços físicos, convicções, gestos. – a minha almofada chora.
Eu costumava acreditar mas o tempo não voou. Limitou-se a passar como só o tempo sabe. Os ponteiros do relógio continuaram a trabalhar da forma que lhes ensinaram. Nem mais nem menos.
Não vamos morrer juntos. Talvez um de nós morra mesmo antes dos 30 (estamos gastos, meu amor) e o outro lhe siga, pela tal simbiose de que escolhemos não falar.
Ou talvez morramos de uma daquelas doenças idiotas, causadas pelo excesso de álcool, quando tivermos 40 anos e nenhuma perspectiva de vida. Já nem sei.
Neste sufoco habitual que é acordar sozinha todas as manhas, lembro-me do que não fomos. E cada uma destas memórias não vividas me dói."

terça-feira, agosto 01, 2006

Vai continuar

Deixa que cresça
deixa que isso cresça dentro de ti
porque isso vai-te fazer bem
se o souberes ver em ti.