terça-feira, agosto 26, 2008

Afinal existe uma luz que nos encandea.

Não haverá mais espaço para exultação.
Mais espaço para requerimentos estranhos e explicações eternas?
Não.
É verdade, as coisas desmontam-se tristes e desejosas de mais vontades puras,
factos que se provam falsos por sabermos a sua verdade apenas dentro das nossas mentes.
Não posso continuar a viver na mentira de me explicar o porquê de estar como estou.
São lembranças de tanto que se constroem no muito que é a vida agora.

Dias e dias de pavor extremo, que não hão-de ser apenas um mero passado,
todos vivemos no medo de viver,
não se iluda o terceiro que leia este texto,
no entanto é perfeitamente concebível a enormidade de um sentimento tão puro como o que acabei de perceber.

Não se lancem os foguetes (há sempre quem os lance, não sei porquê).

Vivemos na eterna busca de algo que nunca admitimos que encontramos,
nem que todo o nosso ser esteja a exultar de alegria,
podemos sempre arranjar maneira de a abafar, quem sabe até de a sufocar.

Esperança faz-se por entre o relevo da nossa carne húmida pelos dias de calor intenso
e queremos os dias com um pouco mais de incenso,
não vá isso perturbar-nos os sentidos e fazer-nos felizes por sabermos que somos queridos.

terça-feira, agosto 12, 2008

Outras partes de tudo.

Recortam-se as partes excedentes de um retrato abundante de lixo.
Mais papier-maché para fazer mais formas de querer.
Não me deixes ser só eu no que sou dentro de mim.
Falar para dentro é demais o que se quer sempre.
Não me deixes ver aquilo que não vi e não quero ver.

Falar, pensar no que falo dizendo o que fiz pelo que fiz dizendo que não fiz
revela-se uma tarefa que por demais se há-de desdobrar em vinte partes iguais
que se farão outras trinta mais, multiplicadas por umas outras cem que se farão
sem qualquer sentido.

Não se faz o que não se fez porque nunca se há-de fazer.

À noite tudo parece mais calmo,
os cães já não ladram tão alto e o silêncio já não berra aos ouvidos.
Agora ouve-se um pequeno burburinho.
Quero saber o que dizem,
vou vê-los mais de perto.

quarta-feira, agosto 06, 2008

As lojas dos mil ofícios.

Visitei, outra vez, quinhentos espaços que me lembravam de ti,
explorei as entranhas dos sonhos e disse-me forte o suficiente para continuar a tentar.
Não, advérbio de negação.
Disse-me forte o suficiente para não voltar a tentar.

"De onde vêm estas coisas que me berram aos ouvidos?"

Os corredores eram mais estreitos do que o que me lembrava,
não havia tralha alguma que me impedisse a passagem à minha ida,
mas no caminho do volta só por sorte consegui evitar ficar preso
no meio de pilhas e pilhas de recordações.

As vontades são apenas coisas, como mesas e cadeiras,
as vontades são como cervejas servidas em pequenos copos de plástico,
as vontades são como os cigarros,
acabam depressa.

Emoções, sentimentos, ilusões, vermes pestilentos.
Não me vou fazer mais ou fazer mais alguém ou dizer mais algum.
Vou o que sou não sou e não dou, não é mais nada, nada de nada.

Ora, acabou.

Não se diz mais o que fazer a seguir.

Acabou.

Somos os passos que se dão a seguir.

Acabou, a indecisão acabou.

E agora não há mais nada a seguir.

Acabou.

Talvez...