terça-feira, setembro 21, 2010

É gratuito.

Tudo tem um preço.
Vejo que os anos passam, mas na realidade só tenho este.
Dão-nos tudo. Aprendemos.
Mudamos, crescemos e depois tudo acaba.
Acaba. E eu sou imortal.
Não. Não me entendam como se já me conhecessem.
Tu não me conheces, ninguém me conhece.
Eu não sou daqui.
Os textos escrevem-se para se criarem ilusões.
Ninguém sabe a dor de ninguém.
Ninguém escreve a dor de ninguém.
Podes até dizer-me o que queres,
virar costas quando quiseres,
mas ninguém sabe o que me vai.
Ser igual não é mais que ser diferente.
Mudar a cor é saber de cor quantas coisas disseste.
Guardar no peito a lembrança de sempre.
E isso é o quê? Só eu sei.
Não houve nem haverá porque só há isto.
E isto perde-se aqui, nesta lembrança.
Acabou.

Não me faz confusão, não me dói mais do que isto.
E é o quê isto? Quem vem de cá, quem vai para lá?
Porque os levam às séries, com motivos iguais?
Porque levam esta vida para levar os demais?
Que motivação maior há senão a que há.
No fim da estrada há-de haver sempre quem me queira agarrar,
nem que eu não valha nada,
alguém me vai querer furar e levar o que eu tiver nos bolsos.
Não é isso que se diz, não é isso que se faz.

Não se ama mais hoje? Não se faz nada por ninguém, hoje?
Tu fizeste o quê hoje?
"Foste um bom robot, hoje?"
Tiraste o quê hoje? Abraçaste quem, hoje?
Encheram-te o bolso?
Fodeste quem hoje?
Diz-me!
Diz-me porque eu não entendo.
Eles estão todos a ir embora, todos.
Não tarda iremos nós.
E quem é que tu beijaste hoje?
Não interessa.
Vamos a correr.
Todos a correr para os carros, para o trabalho,
ganhar e acreditar que ganhamos.
Vemos um filme à noite e cantamos uma canção a caminho de casa.
E pisaste quem hoje? Pediste desculpa hoje?
Não, porque eu sou e sei e vou para onde eu quiser quando quiser.
Está bem, e abraçaste quem hoje?

Uma cerveja, vinte cigarros, três canções, um par de amigos.
Miúdas bonitas, noites sem fim. Talvez o fim seja só quando amanhece.
Depois começamos de novo.

É uma espécie de tordo. Talvez porque tordo me faça lembrar atordoado.
O que eu quero dizer é que é demasiado curto, é pouco tempo
não é preciso desperdiçarmos tanto.
Um mais um faz dois, talvez seja quanto baste para entendermos a vida
e ainda assim, se não a entendermos...

quarta-feira, setembro 15, 2010

Destitulado.

Precisamos de calor
precisamos de frio
precisamos da vida
do coração vazio
da lembrança ténue
da doce vingança
do desejo célere
e da tua inconstância.

Precisamos de amor
de vontade e querer
se perdemos o furor
vamos logo deixar de querer.

Mas que mais me fizeram
lá na auto-estrada
o recomeço da entrega
o embrulho que nevava.
Não caí porque precisamos de nos levantar
e o que ela me deu
ficou lá atrás,
a chorar.

Mãe, o que levo daqui mãe?

Precisamos de ódio, mordaças, coisas em praças.
Precisamos do vídeo
das palavras parvas
do coração partido e das pernas fracas.

Fui ver um monte que me disse o que quis
porque precisamos de tudo
e eu preciso de ti.