sábado, novembro 29, 2008

Partido.

Partiram-se as partes pintadas da redundância teimosa.
Estou parvo, entregue ao meu destino
lutando por dinheiro fino de se poder dizer mais.
Não me deixo à lembrança,
ao passo que a esperança se desloca em mim
e sou apenas cego, surdo de agoras e mudo do futuro.

Não me pintes o costado,
estou apenas amargurado duma outra que não me vê.
Deitei-me ontem à mesa,
pés assentes naquela perda
mas com outra maior certeza
não abdico de ti.

É fácil o estado laço
fugido do embaraço
de deitar tudo a perder
mas outrora eu nunca mudo
vou confiante no mais que tudo
e que se foda o que doer.

terça-feira, novembro 25, 2008

Semblantes são distracções.

Ora se se retratam as lembranças e nos traçam todas as capacidades de podermos ir mais além, e se ainda depois disso nos reluz a vontade de ir para mais longe do que algum dia fomos, porque não ir?

Nós não nos sabemos rir.
Não sabemos dizer coisas simples e sorrir.
Nós não sabemos ir.

Macambúzio olhar soturno,
estranho corpo que se arrasta,
tanto desuso.

Eles têm mais trinta vidas do que eu.

Os destroços do passado são a vida no presente,
se me conbtinuas, alado, nesta insistência de outrora,
vou ter que te deixar, depois da hora.

Não me assaltes a mente,
não te desligues da sombra do feliz impaciente.
Há poesia que leio,
textos fracos que leio
outras obras que leio,
mas foda-se, não te leio.

Vá-se num pé de lembrança pura
venha-se a estátua que um dia me atura.

segunda-feira, novembro 17, 2008

Circular.

Todos ordeiros, um atrás do outro.
Não há ninguém no lugar do passageiro.
Só eu e os cigarros de sempre.
Uma curvatura estranha que se assemelha ao revigorar do que me reluz aqui.
Há uma conformidade absurda em não nos conformarmos,
uma conformidade de achar que a única forma de não nos conformarmos é
conformando-nos.
E caí.
É como quando um matulão nos faz peito e sabemos que vamos cair a qualquer altura.
Braços para trás, para amparar a queda e os olhos que só se fecham no instante em que batemos no chão.
Tudo o resto vemos.
Quem nos bateu, quem vem para cima de nós para nos continuar a bater.
E a opção é nossa, ou reagimos e tentamos ripostar
ou iniciamos uma violência redobrada
na culpa de não termos a estrutura física de quem veio para cima de nós.
Ainda assim podemos perder.
Ainda assim certamente sairemos bem partidos,
mas ripostamos.

sexta-feira, novembro 14, 2008

Dores crónicas.

Há dias em que sentimos o calor que se atravessa no frio da nossa vida.
Não importa se a vemos mais acima ou abaixo ou até mesmo pelo centro da gravidade emocional
importa antes o que vivemos nela.
Não há coisa alguma que possa ver porque tudo terei mais ainda para olhar.
Não adianta pedires ou pensares, o que é é o que é, do que foi.

Eu ouvi os gritos, eu vi as pessoas, eu fiz a distância,
não exactamente por esta ordem, mas vivi-a em mim.
Espero que estejas bem, nesse outro lado desconhecido,
espero que te recebam bem, que a encontres um dia diferente deste.
Espero que nos ouças a rir e a chorar tudo que foi
mas a puta da dor de ires embora há-de ficar.
E se a vida eterna é a perpetuação da memória?
E se o Alzheimer nos engana?
E se noutro dia for mais fácil e no outro mais difícil?
E se realmente o ser humano tiver razão um dia?

Não há dor igual a esta, porque não há ninguém igual a mim
hei-de dizer tudo e mais o que viver.

E se viver a vida eterna for deixarmos descendentes?
E se tudo que dizem for verdade?
E se for tudo mentira?

Ah, porra.
Porque nos perguntamos tantas vezes do que andamos aqui a fazer?
Os óculos de sol, as calças da moda, a posse infindável.
O sexo, o ardor, a doença, o pudor, as discussões,
as lembranças, o partido olhar da indiferença.
Dói tudo.

Gostava de falar a todos, de dizer a todos desta indiferença,
esta indiferença colectiva de ser mais qualquer coisa que não se é.
Que dom? Que trabalho? Que noite mal dormida? Que vida mal vivida?
Que morte? Que choro? Que reentrância cá está?
Que buracos abrimos? Que perguntas fazemos? Que dias duramos e perduramos?

Descobrir como amar é mais que viver ou morrer, é tudo junto,
é cada bocadinho de vida que temos e cada bocado de morte que conquistamos.

Amo-te, mas já foste embora.
Se depender de mim a tua vida eterna, assim a terás, cada dia, num dia.

sexta-feira, novembro 07, 2008

Segue-se o prato principal.

Todos os dias somos aquilo que não fomos nos outros dias.
Querem-se todas as coisas de uma só maneira.
Detestamos que nos pisem e amassem,
isso fazemos nós a nós próprios.
É melhor, mais doloroso e bem mais, mais.

Não houve um dia que não pensasse que não o pudesse fazer
mas esses dias desdobram-se.
Odeio, odeio
hoje sei o que significa.

Nunca antes foi ou será o que é no detrás.
Não se façam as memórias de uma fútil futilidade.
Querem-se maiores e mais fortes
a dormir descansadas
sem espaço para poderem reflectir as vezes necessárias.

Foda-se, não adianta ser exactamente o que queres
pois a utopia irá corromper-te até ao fim.
Pára a necessidade do desprezo porque certamente irei mais longe
amanhã.

Hoje quero que se parta em dois
amanhã já não
hoje não parte.