sexta-feira, novembro 14, 2008

Dores crónicas.

Há dias em que sentimos o calor que se atravessa no frio da nossa vida.
Não importa se a vemos mais acima ou abaixo ou até mesmo pelo centro da gravidade emocional
importa antes o que vivemos nela.
Não há coisa alguma que possa ver porque tudo terei mais ainda para olhar.
Não adianta pedires ou pensares, o que é é o que é, do que foi.

Eu ouvi os gritos, eu vi as pessoas, eu fiz a distância,
não exactamente por esta ordem, mas vivi-a em mim.
Espero que estejas bem, nesse outro lado desconhecido,
espero que te recebam bem, que a encontres um dia diferente deste.
Espero que nos ouças a rir e a chorar tudo que foi
mas a puta da dor de ires embora há-de ficar.
E se a vida eterna é a perpetuação da memória?
E se o Alzheimer nos engana?
E se noutro dia for mais fácil e no outro mais difícil?
E se realmente o ser humano tiver razão um dia?

Não há dor igual a esta, porque não há ninguém igual a mim
hei-de dizer tudo e mais o que viver.

E se viver a vida eterna for deixarmos descendentes?
E se tudo que dizem for verdade?
E se for tudo mentira?

Ah, porra.
Porque nos perguntamos tantas vezes do que andamos aqui a fazer?
Os óculos de sol, as calças da moda, a posse infindável.
O sexo, o ardor, a doença, o pudor, as discussões,
as lembranças, o partido olhar da indiferença.
Dói tudo.

Gostava de falar a todos, de dizer a todos desta indiferença,
esta indiferença colectiva de ser mais qualquer coisa que não se é.
Que dom? Que trabalho? Que noite mal dormida? Que vida mal vivida?
Que morte? Que choro? Que reentrância cá está?
Que buracos abrimos? Que perguntas fazemos? Que dias duramos e perduramos?

Descobrir como amar é mais que viver ou morrer, é tudo junto,
é cada bocadinho de vida que temos e cada bocado de morte que conquistamos.

Amo-te, mas já foste embora.
Se depender de mim a tua vida eterna, assim a terás, cada dia, num dia.

Sem comentários: