Nunca fui de coisas alegres.
Não sei porquê mas nunca fui de coisas alegres.
Sempre tive esperança.
Esperança que as coisas mudassem.
Não mudou nada disso mas vejo o meu país afundado na sua própria desilusão
vejo os dias somarem-se, pessoas a desertarem e a deixarem o melhor arder.
Não sei mas nunca fui de canções alegres.
Houve um dia e outro que as corei mas as canções alegres nunca foram para mim.
Torno a ver o país que sempre foi dentro de mim.
Não há muito a dizer,
o país de mim desmonta-se aos poucos, desacredita-se aos poucos
porque os braços não ficam levantados
só se levantam à chegada
ficar nunca foi para nós
é mais ir e voltar mais tarde
como se uma conversa pudesse ser adiada
como se um dia pudesse ser adiado
e permanecemos inertes, cúmplices e coniventes
descrentes do presente a desejar que tudo seja como é fora da nossa casa.
A galinha da vizinha é dela, não é tua
roubá-la não me dá pertença
só a voz é minha
até os sapatos me podem levar
e só a voz é que é minha.
E não adianta gritar porque ao sair do teu corpo é dos outros
e a entrega tem que ser de todos
e a batalha tem que ser de todos
e tudo tem que ser de todos.
Não somos nós sem nos termos uns aos outros
Não nos queremos sós porque somos uns dos outros.
Não é hora, não é tempo, já acabou.
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